O manejo do terreno junto ao mar tornou-se um fenômeno popular no desenvolvimento costeiro. É a solução mais comum para suprir a necessidade de terra em áreas costeiras e foi implementada para vários tipos de uso, incluindo controle de inundação e agricultura. Hoje em dia, tornou-se uma conhecida resposta para o rápido aumento da urbanização costeira, da atividade econômica e para o aumento da população mundial. Países como a China e os Países Baixos lideram a lista em área. No entanto, a maioria dos projetos ocorrem dentro de centros urbanos no sul global. Cidades na África Ocidental, Leste Asiático e Oriente Médio criam essas novas porções de terra para impulsionar a economia industrial ou para gerar espaço para projetos residenciais de luxo.
Mas a relação entre o design do aumento da faixa de terra e a resposta da água em ambientes oceânicos é complexa. Requer uma relação simbiótica com corpos d'água para estabilidade, mas pode provocar forças naturais quando negligenciado no mar. Comportamentos da água do oceano, incluindo acúmulo de maré, aumento do nível do mar, conexão com áreas úmidas e biodiversidade aquática, podem questionar o sucesso ou fracasso dos projetos em diferentes contextos.
O manejo de terreno em áreas costeiras é praticado há séculos usando vários métodos em diferentes configurações. Tradicionalmente, as cidades empregavam diques para cercar águas rasas e drenar as cercas para criar terra seca. Um exemplo disso é Zuiderzee, nos Países Baixos. Na década de 1900, barragens foram construídas no Mar do Norte e a água foi drenada para criar terras para abrigar sua crescente população. Nos tempos modernos, práticas mais concretas, como a mistura de cimento profundo diretamente em ambientes oceânicos e a construção de muros marítimos para contê-los foram implementadas. A eco-cidade sino-singapuriana de Tianjin, na China, é um exemplo em grande escala dessa prática moderna, produzindo uma faixa de 6,2 milhas de terrenos para projetos habitacionais, industriais e portuários, impulsionando seu crescimento urbano e econômico.
Apesar de seus benefícios para as cidades e a evolução de seus métodos, a alteração do terreno inevitavelmente afetará a estrutura e o comportamento de ambientes oceânicos. Estudos mostraram que a forma do perfil, a inclinação do leito e o tamanho dos grãos dos sedimentos dos ambientes oceânicos podem ser alterados, influenciando a dinâmica local das marés, como amplitude, assimetria e correntes. Quando correntes oceânicas naturais são obstruídas, a água encontra seu caminho, aumentando a ação das ondas e das marés, mudando naturalmente de direção com força extra. Esse é o fundamento da resposta da água ao manejo de terras, e isso determina o sucesso, impacto ambiental e sustentabilidade do projeto.
A cidade marinha de Busan, na Coreia do Sul, por exemplo, é resultado do manejo de terreno costeiro. Tem uma forma urbana que enfrenta o mar em três lados e é lar de arranha-céus residenciais luxuosos. Construída na década de 1980, a cidade é protegida por muros de arrimo por todos os lados. No entanto, este projeto não apenas altera a forma da linha costeira, mas também introduz terra dura (concreto e asfalto) no oceano, tornando a cidade mais vulnerável a grandes tempestades e aumento do nível do mar. Na última década, a cidade marítima passou por uma série de tufões que causaram ondas que transbordaram os muros e inundaram suas ruas.
Outro exemplo é a Eko Atlantic City, em Lagos, Nigéria. Curiosamente, este projeto foi concebido como uma solução urbana para proteger a capital cultural contra inundações, erosão e aumento do nível do mar. Através da dragagem de solos oceânicos próximos, foi produzida uma faixa de terra de 10,2 km voltados para o Atlântico. Foi cercado por um muro de arrimo de 8,2 km e planejado para acomodar projetos habitacionais de arranha-céus que sustentarão a população em crescimento. No entanto, também houveram implicações ambientais negativas. Eliminou as áreas úmidas, que anteriormente serviam como um buffer entre as áreas costeiras e o oceano, e mudou os fluxos de água para áreas circundantes, levando a uma maior erosão nessas partes da cidade. Além disso, as áreas costeiras onde o solo oceânico foi dragado são atualmente vulneráveis a ondas de tempestade e têm passado por sucessivas inundações ao longo dos anos. Esses exemplos demonstram que a falta de sensibilidade ao comportamento da água e o design inadequado de projetos de alteração de terreno podem ter efeitos negativos de longo prazo no meio ambiente.
Em uma luz positiva, o caso de Xangai, China, é um que considera as condições costeiras existentes e responde ao comportamento da água. Através de técnicas de construção de muros e dragagem, a cidade acrescentou bem mais de 580 quilômetros quadrados de terra a suas linhas costeiras desde 1985. Embora a maior parte das terras adicionadas fosse destinada a portos, indústria e habitação para impulsionar o crescimento da cidade, uma porção significativa também foi designada para parques, florestas, lagos interiores e zonas úmidas. O design urbano foi cuidadosamente planejado para considerar a resposta da água do oceano a obstruções construídas e o papel das áreas úmidas como um buffer entre o oceano e a terra, o que ajuda a absorver grande parte da força do oceano. Apesar de ser identificada como uma cidade vulnerável a inundações e mudanças climáticas futuras, Xangai empregou práticas sensíveis de alteração de terreno para mitigar o impacto do oceano.
É evidente que fatores costeiros, como as áreas úmidas, a forma da linha costeira, a estrutura do leito oceânico e a dinâmica local da maré contribuem para a sustentabilidade de projetos de alteração de terreno. Eliminar sistemas naturais de erosão por inundações de áreas úmidas pode levar a mais inundações, e impedir a inundação em um local pode fazer com que a água encontre uma nova direção, o que pode levar a inundações em outros locais. As áreas úmidas não são apenas buffers para inundações e erosão, mas também habitats para espécies aquáticas únicas. Elas abrigam recifes de coral, caranguejos-ferradura, algas marinhas e outras espécies próximas à costa. Esses organismos têm um grande impacto na cadeia alimentar do oceano e controlam sua biodiversidade. Destruí-los pode levar a desastres ecológicos de longo prazo. Portanto, temos uma responsabilidade ambiental e não podemos eliminar seus habitats para adequá-los a projetos de alteração de terreno.
O discurso em torno da resposta da água do oceano ao design e manejo de terreno em áreas costeiras expandiu. Além estarmos atentos à dinâmica das marés da água, devemos ver essas áreas como lar de vastas espécies ecológicas. Todos os aspectos dos projetos de manejo de terreno, desde a tomada de decisão e localização até o desenho da faixa costeira. A conservação da ecologia marinha, a estrutura do oceano, as marés locais e zonas úmidas devem ser examinadas com sensibilidade para promover um ambiente costeiro sustentável.
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